sábado, 5 de setembro de 2009

Fernado e Wanessa

Há algum tempo atrás num estacionamento eles se conheceram, ela sabia que era ela mais do que nunca, mas não sabia quem ele era, enquanto dava uma ré em seu carro os dois fitaram seus olhos, ele muito mais do que ela, até hoje é o que se sabe, alguns dias depois apostaram imbecilmente velocidade em seus carros, no dia seguinte se esbarraram nas ruas da praia, já era noite (madrugada), ela tinha saído pra fazer um lanche, ele comentava dela com um amigo, não sei bem como se deu o desfecho, mas seus corações assim por se dizer já eram habitados de alguma forma, mas o que ela não sabia era que o dela era bem menos do que o dele, isso só veio a ficar claro semanas depois, enquanto ela já tinha desocupado o seu e estara pronta para lançar sua alma na do bem-amado, os dias seguintes foram mágicos, sentiam o sabor de açúcar cande cor-de-rosa, mas como todo doce para ser doce precisa ter um amargo, sentiam esse sabor por vezes, alguns medos bateram a porta, por vezes ela abria a porta e o medo adentrava pela porta e pelas janelas, mas ele segurava em suas pequenas mãos com temperatura de chuva e todo o medo ia embora, eles passaram a ser cúmplices, ela jurava o amar, ele economizava palavras, ela olhava o infinito ao lado dele, ele vivia de óculos escuros, ela queria sempre a verdade, ele a poupava dos detalhes, ele era sempre tão seguro e ela tão pequena e entregue, depois da louca paixão, as coisas ficaram estranhas, ela completamente envolvida pela teia dele, ele tão livre como tal liberdade a despertava inveja, por não conseguir mais ser como era em seu carro com velocidade mil, não conseguia mais pular e sair gritando, ela sentia um amor livre aprisionado, que uma hora movia o sol e outras estrelas, outrora sentia-se imóvel, e como queria viver um grande amor, ela foi só dele, mesmo que ele não tenha sido, pois ser de muitos... é de colher, não tem nenhum valor, ela o olhava como o seu primeiro namorado e como sei viúvo também, pulava de um trampolim sem saber que tipo de piscina tinha lá embaixo, ela queria que ele tivesse uma conta no florista, que lhe mandasse rosas e que fosse pontual, que fizesse questão de estar presente nos momentos importantes da vida dela, como ela ficava radiante para lhe fazer surpresas, escrever cartas e ver sua reação ao lê-las, se um dia ela foi alegria ao conhecê-lo agora ela escreve pela tristeza que ficou, muitas foram as tentativas de separação, quando por vezes seus olhares fulguraram por instantes um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que nada havia a fazer. Ela gostava quando olhava com ele o mundo, mas gostava mais quando escolhiam a mesma coisa pra olhar, gostava mais do mundo quando podia olhar para o mundo quando olhava com ele. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesma numa tentativa de secionar aqueles dois mundos que eram ela e ele, mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira e o espesso tecido da vida, e ela ficou retida, sem poder mover do lugar, sentindo o pranto forma-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce. Fechava os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas de fato ele estava ali do lado, e dele separado por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças pra se desprender-se dele, sabia que era ele o seu amado, que esperava por muitos anos e buscava em todos os homens, era complicado quando pensava que há alguns passos dali ele estava, com sua forma masculina, não qualquer forma, mas a dele, a do homem amando, que o abençoara em seus beijos e a agasalhara nos instantes de amor de seus corpos, ficou em sua mudez, perdida em seu próprio espaço, perdida em suas cogitações, de súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, corria para a rua e andava sem saber pra onde...

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